sexta-feira, 17 de agosto de 2007
Aposentados de Sertãozinho, ao trabalho!
Bloco sobre Sertãozinho no Globo Repórter de hoje:
Ao primeiro olhar, Sertãozinho é uma cidade como qualquer outra do interior de São Paulo, com igreja, pracinha e fonte artificial. Mas essa não é uma cidade comum.
"Muitas indústrias estão sendo abertas, e as pessoas estão saindo da lavoura para trabalhar nelas", conta o pintor José Paixão Silva.
Sertãozinho evoluiu da tradição canavieira para a indústria de gigantes: mais do que fazer álcool e açúcar, lá se produzem usinas – de parafusos a caldeiras.
"A riqueza gerada na região foi exportada. Esse dinheiro todo entra e é redistribuído dentro do município, beneficiando todo mundo. Não tem ninguém de fora", diz Marcos Fava Neves, professor administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP), da Universidade de São Paulo (USP).
Na cidade da cana, é a empresa que procura o trabalhador.
"No Posto de Atendimento ao Trabalhador, temos uma média de 130 vagas ofertadas por mês. Dessas, conseguimos colocar apenas 30 trabalhadores no mercado de trabalho", conta a diretora do PAT de Sertãzinho, Ana Maria Buonagamba.
Viviane Magalhães, de 18 anos, e outros 32 colegas recebem salário-mínimo para cursar o ensino profissionalizante. O programa, que envolve prefeitura, Ministério da Educação e cinco instituições, é o caminho para muitos jovens.
"Para entrarmos na empresa, precisamos ter um curso, que muitos não têm condições de pagar. É muito complicado para essas pessoas. Então, está sendo uma oportunidade enorme para nós”, diz Viviane.
As três escolas técnicas voltadas para as necessidades das industrias locais têm processo seletivo disputado.
"Eu pretendo ser alguém na vida, ter um curso profissional para trabalhar, formar uma família e ter uma casa, um lugar onde morar. Um único curso não garante tudo isso. É preciso fazer vários", ressalta Alan Ferreira Borges, de 15 anos.
Para atender o mercado, o Senai está em obras. O número de vagas vai crescer de 4 mil para 5 mil por ano.
"Imagine como somos assediados em relação ao profissional que estamos formando", comenta o diretor do Senai de Sertãozinho, Luiz Zambom.
Do total de alunos, 80% já estão empregados ou conseguem uma vaga antes mesmo de deixar a escola. A importância dessa porta aberta do mercado de trabalho pode ser medida por duas listas: uma com 700 pessoas interessadas nos cursos esperando a chance para sentar em uma carteira; a outra, muito especial, tem 39 empresas com vagas abertas na lista de espera por alunos que se formem.
"Arrumei estágio no meio do curso. Quando o curso acabou, fui contratado", conta o metalúrgico Luís Felipe Gardengui de Souza, orgulhoso por não ter ficado nem um dia sem trabalho.
Para empresas que não conseguem um funcionário novo para trabalhar, paciência, sabedoria, experiência, capacidade de ensinar – tudo isso numa mesma pessoa. Os aposentados estão sendo chamados de volta para o trabalho.
Augusto de Jesus Belotti, um dos 13 mil metalúrgicos da cidade, achou que o sossego viria com a aposentadoria. Que nada, cinco propostas irrecusáveis o levaram de volta à indústria. "Mexe com a gente. É gostoso trabalhar assim, com idade avançada e tendo pessoas interessadas", diz.
"A proporção chega a 25%. Isso significa que a cada quatro metalúrgicos, um é aposentado", revela o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sertãozinho, Hélio Antônio Cândido.
"Não estamos deixando ninguém se aposentar. A pessoa que se aposentar vai continuar trabalhando. Estamos indo em busca de mais alguns ainda", adianta o empresário Osvaldo Mazer.
Números positivos, empresários cautelosos. Eles dizem que Sertãozinho não é o paraíso do emprego. "Sertãozinho precisa de mão-de-obra qualificada. Não adianta as pessoas virem para Sertãozinho sem uma profissão e acreditarem que vão chegar aqui e encontrar emprego ou facilidade", alerta a presidente do Centro das Indústrias de Sertãozinho e Região (Ceise), Mário Garrefa.
A cidade tem 106 mil habitantes e 550 industrias. O desemprego, que já chegou a 4%, está caindo. "Em 2005 e 2006, foram criados 5 mil novos postos de trabalho. Em 2007, já estamos hoje com 7,3 mil novos postos criados. Acreditamos que esse índice esteja bem abaixo do que historicamente se comportou", avalia o secretário municipal da Indústria de Sertãozinho, Marcelo Pelegrini.
O comércio disputa cada palmo ao redor da igreja: nenhum imóvel está desocupado. "Hoje os funcionários têm uma estabilidade de emprego na indústria. Isso faz com que o salário seja melhor, e eles tenham mais condições de pagar suas contas, de não atrasar os crediários. Então, isso faz com que nosso nível de inadimplência caia e nosso nível de venda aumente", diz o presidente da Associação Comercial e Industrial de Sertãozinho, Paulo Henrique Andrucioli.
As exportações triplicaram: em 2006, foram US$ 160 milhões. 0 interesse dos investidores internacionais, aos poucos, cria necessidades novas. Na empresa de componentes de automação para usinas, tem espaço também para a professora de inglês. Sorte que o sotaque carregado no "r" ajuda.
Aos 19 anos, o aluno Everton Thiago Gregoldo sabe que só o conhecimento pode indicar uma carreira de sucesso. "Nós estamos no caminho certo, passo a passo. Agora é só cada um se esforçar que chega lá", diz.
Em Sertãozinho, o futuro profissional pode ser muito mais do que uma conversa de pai para filho.
"Ele me disse: ‘Comece agora e ninguém vai parar você", conta o jovem metalúrgico Luiz Henrique Marques Silva.
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