---------- Forwarded message ----------
From: Geraldo Xexeo
Date: 2009/6/1
Subject: Re: [Sbc-l] Signs of epistemic disruption: Transformations in the knowledge system of the academic journal
Cc: SBC-L <sbc-l@sbc.org.br>
Vejo que muito se discute o teor do regulamento da avaliação CAPES,
porém pouco se discute sobre a própria existência do regulamento.
Deixemos claro que a política atual de avaliação é uma camisa de força
a qual somos obrigados a nos render. Isso porque não apenas o dinheiro
que mantém os cursos de pós-graduação, mas a própria existência desses
cursos dela depende. Propostas já discutidas em nosso ambiente, como a
de nos retirar do processo de avaliação e recusar o dinheiro da CAPES,
procurando um modelo independente, são inviáveis, pois nossos diplomas
nada valeriam.
Claramente, a forma atual de avaliação é um atentado contra a
autonomia universitária e científica. Não é possível criar um
departamento que "pense diferente". Enquadrados todos, qualquer que
seja a regra, pouco espaço sobra para a verdadeira inovação e para o
aparecimento de lideranças reais e núcleos de excelência.
O primeiro questionamento que devemos fazer é contra a própria
existência de uma regra de avaliação. Claro, ela parece ser válida
quando pensamos em centenas de cursos que pretendem apenas fornecer
diplomas de mestrado, em um formato de educação continuada e
padronizada que tanto agrada certos círculos da educação no Brasil.
Garanta-se o mínimo e o mínimo será dado para todos. Há muitos anos
esse parece ser o paradigma da educação brasileira: pouco para muitos.
Mas é assim que se faz Ciência?
A resposta é óbvia: não é assim que se faz Ciência. Não foi assim que
o homem pisou na Lua, não foi assim que descobrimos as menores
partículas da matéria ou encontramos a cura para incontáveis doenças.
O que é necessário é uma política científica baseada em objetivos de
longo, médio e curto prazo, ao redor de problemas reais da nação ou de
problemas que provoquem o crescimento da nação. O que é importante é
direcionar estrategicamente a pesquisa, ao contrário do regulamento
existente, que gera uma visão tática. O que é importante é atrelar a
ciência à indústria e a sociedade, provocando o crescimento.
Como esse plano não existe, ficamos apenas com um regulamento. O pior,
é que esse regulamento possui apenas uma régua.
Nossa Ciência, então, passa a ser medida pela aceitação de nossos
artigos por comitês editoriais de revistas internacionais. Os
problemas nacionais deixam de ser importantes. Áreas inteiras deixam
de ser importantes, pois suas revistas são de pouca influência. Áreas
novas deixam de ser importantes, pois ainda não existem revistas
reconhecidas que delas tratem.
As mensagens que nos passa o regulamento são: trabalhem em áreas
consolidadas, onde pequenos resultados podem ser publicados em
revistas de grande impacto; publique muito, eduque pouco; exercite seu
inglês e abandone as outras línguas e culturas; priorize o global
sobre o nacional.
Parece uma lista do que não se fazer para fazer um país crescer.
E isso ocupa o vácuo de uma política nacional de Ciência e Tecnologia.
O impacto não é de curto prazo. Depois de anos vivendo dentro desse
paradigma, não só nos adaptamos a ele como também já criamos uma
geração de doutores e professores que foi treinada a acreditar que
essa é a coisa certa. Com o tempo, isso só tende a se agravar.
O mais surpreendente, porém, é que não há uma só pessoa na Computação
que, confrontada com argumentos como esses, defenda o método atual.
Minha experiência diz que as Engenharias também não acreditam nisso.
Já ouvi de professores que criaram documentos de área que não
concordam com o que foi aprovado.
Por que então seguimos nesse caminho?
Geraldo Xexéo
--
Geraldo Xexéo, D.Sc.
Coordenador do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação - COPPE/UFRJ
Professor Adjunto - DCC/IM/UFRJ
From: Geraldo Xexeo
Date: 2009/6/1
Subject: Re: [Sbc-l] Signs of epistemic disruption: Transformations in the knowledge system of the academic journal
Cc: SBC-L <sbc-l@sbc.org.br>
Vejo que muito se discute o teor do regulamento da avaliação CAPES,
porém pouco se discute sobre a própria existência do regulamento.
Deixemos claro que a política atual de avaliação é uma camisa de força
a qual somos obrigados a nos render. Isso porque não apenas o dinheiro
que mantém os cursos de pós-graduação, mas a própria existência desses
cursos dela depende. Propostas já discutidas em nosso ambiente, como a
de nos retirar do processo de avaliação e recusar o dinheiro da CAPES,
procurando um modelo independente, são inviáveis, pois nossos diplomas
nada valeriam.
Claramente, a forma atual de avaliação é um atentado contra a
autonomia universitária e científica. Não é possível criar um
departamento que "pense diferente". Enquadrados todos, qualquer que
seja a regra, pouco espaço sobra para a verdadeira inovação e para o
aparecimento de lideranças reais e núcleos de excelência.
O primeiro questionamento que devemos fazer é contra a própria
existência de uma regra de avaliação. Claro, ela parece ser válida
quando pensamos em centenas de cursos que pretendem apenas fornecer
diplomas de mestrado, em um formato de educação continuada e
padronizada que tanto agrada certos círculos da educação no Brasil.
Garanta-se o mínimo e o mínimo será dado para todos. Há muitos anos
esse parece ser o paradigma da educação brasileira: pouco para muitos.
Mas é assim que se faz Ciência?
A resposta é óbvia: não é assim que se faz Ciência. Não foi assim que
o homem pisou na Lua, não foi assim que descobrimos as menores
partículas da matéria ou encontramos a cura para incontáveis doenças.
O que é necessário é uma política científica baseada em objetivos de
longo, médio e curto prazo, ao redor de problemas reais da nação ou de
problemas que provoquem o crescimento da nação. O que é importante é
direcionar estrategicamente a pesquisa, ao contrário do regulamento
existente, que gera uma visão tática. O que é importante é atrelar a
ciência à indústria e a sociedade, provocando o crescimento.
Como esse plano não existe, ficamos apenas com um regulamento. O pior,
é que esse regulamento possui apenas uma régua.
Nossa Ciência, então, passa a ser medida pela aceitação de nossos
artigos por comitês editoriais de revistas internacionais. Os
problemas nacionais deixam de ser importantes. Áreas inteiras deixam
de ser importantes, pois suas revistas são de pouca influência. Áreas
novas deixam de ser importantes, pois ainda não existem revistas
reconhecidas que delas tratem.
As mensagens que nos passa o regulamento são: trabalhem em áreas
consolidadas, onde pequenos resultados podem ser publicados em
revistas de grande impacto; publique muito, eduque pouco; exercite seu
inglês e abandone as outras línguas e culturas; priorize o global
sobre o nacional.
Parece uma lista do que não se fazer para fazer um país crescer.
E isso ocupa o vácuo de uma política nacional de Ciência e Tecnologia.
O impacto não é de curto prazo. Depois de anos vivendo dentro desse
paradigma, não só nos adaptamos a ele como também já criamos uma
geração de doutores e professores que foi treinada a acreditar que
essa é a coisa certa. Com o tempo, isso só tende a se agravar.
O mais surpreendente, porém, é que não há uma só pessoa na Computação
que, confrontada com argumentos como esses, defenda o método atual.
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Já ouvi de professores que criaram documentos de área que não
concordam com o que foi aprovado.
Por que então seguimos nesse caminho?
Geraldo Xexéo
--
Geraldo Xexéo, D.Sc.
Coordenador do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação - COPPE/UFRJ
Professor Adjunto - DCC/IM/UFRJ
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Sbc-l@sbc.org.br
https://grupos.ufrgs.br/mailman/listinfo/sbc-l
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