Pro Teste analisou 18 produtos com maior presença no mercado de alimentos infantis
Uma porção de 30 gramas de sucrilhos de chocolate da Kellogg's (uma tigelinha), por exemplo, tem 205 mg de sódio.
Uma criança de um a três anos deve consumir, por dia, no máximo 225 mg desse mineral -ou seja, uma única porção equivale a 90% das suas necessidades diárias. Para um adulto, essa quantidade de sódio representa 10% das necessidades.
Na avaliação da Pro Teste, todos os cereais matinais também têm açúcar em excesso -de 5,5 a 13 gramas por porção.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o ideal é que uma criança de até três anos consuma, no máximo, 14 gramas por dia de açúcar.
Uma porção do sucrilho sabor banana, por exemplo, tem quase toda a quantidade diária de açúcar recomendada para uma criança nessa faixa etária.
Presente no sal e base para conservantes, o sódio em excesso está ligado à hipertensão arterial e a problemas renais. Já muito açúcar tem relação com obesidade e diabetes tipo 2.
Fibras
Dos cereais analisados, dez marcas apresentaram menos de três gramas de fibras para cada 100 gramas do produto -três gramas é a quantidade mínima para um alimento ser considerado fonte de fibra. Os cereais Corn Flakes (todos os sabores) e Chokos tiveram o pior desempenho no teste: possuem menos de 0,01% de fibra, ou seja, praticamente nada.
Um outro problema apontado pela Pro Teste -que envolve os cereais analisados e a maior parte de alimentos consumidos pelo público infantil- é a falta de adequação da tabela nutricional à faixa etária a que o produto se destina.
A pesquisadora de alimentos da Pro Teste, Fernanda Ribeiro, explica que o percentual diário recomendado de cada nutriente é calculado para uma dieta de 2.000 quilocalorias, que corresponde à necessidade calórica de um adulto, não de uma criança.
A dieta de uma criança de um a três anos, por exemplo, deve ser de 1.050 calorias, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). De quatro a seis anos, esse valor sobe para 1.450 e, de sete a dez anos, para 1.750. "O ideal seria que essas informações fossem apresentadas de acordo com a faixa etária. Seria muito mais útil aos pais", avalia a pesquisadora.
"Isopor food"
O nutrólogo e cardiologista Daniel Magnoni orienta que as pessoas escolham o cereal matinal pelo menor índice de sódio e açúcar e maior presença de fibras solúveis. "O ideal é misturar com um iogurte light, enriquecido com cálcio, e muita fruta", diz ele.
Para Magnoni, os pais não devem se impressionar pelas vitaminas e sais minerais contidos no rótulo dos produtos. "Isso a criança consegue por outras fontes. O que não pode é ficar comendo essa quantidade de sódio e açúcar e quase nenhuma fibra. Isso é o que chamamos de "isopor food", cuja única função é aumentar as taxas de obesidade infantil."
A nutricionista Madalena Vallinoti afirma que muitas vezes os pais utilizam o cereal como alternativa para que a criança consuma leite. "Os pais devem evitar o consumo exagerado desses cereais, mas também não podem proibi-lo caso a criança goste do produto. Deve haver moderação."
De acordo com o pediatra e professor da Faculdade de Medicina da USP, Mário Cícero Falcão, o brasileiro consome muito açúcar e os pais educam a criança a gostar do alimento muito doce. "O cereal que a criança mais gosta é aquele com mais açúcar. É a conjunção do paladar brasileiro com a indústria", afirma Falcão.
Na opinião do pediatra, os brindes distribuídos com os cereais impulsionam o consumo. "Os brindes são uma grande arma antiética. Tem sempre o alimento processado, com valor biológico inferior e pouco nutriente acompanhado do brinde. Por que não vender uma maçã com o personagem da moda?"
Frases
MÁRIO CÍCERO FALCÃO
pediatra e professor da USP
Brindes fazem menino pedir cereal para a mãe
O menino consome os produtos durante a semana na creche e nos finais de semana em casa. "Ele vê [propagandas] na televisão ou [o cereal] no supermercado e sempre tenho que levar para casa", diz Alves.
Durante a entrevista, realizada em um supermercado da zona norte, a reportagem presenciou o menino pedindo o produto do tigre, personagem que estampa as caixas de um dos cereais mais vendidos.
Rosilei de Souza Castro, 30, mãe de Maria Fernanda, 6, utiliza o cereal como incentivo para que a filha consuma leite.
Júlia Aguirre de Souza, 32, mãe de Eduardo, também considera o cereal uma alternativa "saudável", já que o filho gosta de leite e não gosta de verduras.
Segundo a nutricionista Madalena Vallinoti, "o excesso de sódio pode ser minimizado com um grande consumo de líquidos, frutas e verduras".
Segundo ela, os pais também devem optar por cereais sem açúcar e não adoçá-los em excesso. "É necessário restringir o consumo de açúcar e sódio", afirma a nutricionista.
Fabricantes dizem que cereais seguem o que Anvisa estabelece
A Kellog's disse que seus cereais "contêm vitaminas e minerais essenciais, são isentos de gordura trans e colesterol, além de alguns ainda possuírem alto teor de fibra alimentar" -a pesquisa apontou teores baixos de fibras em cinco dos seis cereais analisados e "aceitável" em um.
A Kellog's fabrica sete das 18 marcas avaliadas (Sucrilhos, Sucrilhos Chocolate, Sucrilhos Banana, Choco Krispis, Froot Loops, Chokos e Honey Nutos).
A Nestlé diz que cada 30 g de seus cereais têm açúcares que representam, no máximo, 3% da energia necessária para um dia -a OMS recomenda 10%.
Quanto ao sódio, a Nestlé afirma que seus cereais são para crianças de seis a oito anos (consumo diário de até 1.219 mg por dia) e de nove a 13 anos (até 1.495 mg), e não para aquelas entre um e três anos. Os seus pacotes, entretanto, não citam a idade recomendada.
A Nestlé afirma ainda que a quantidade de sódio usada como padrão pela Pro Teste, mesmo para crianças de um a três anos, é desatualizada. A empresa diz que o nível recomendado vai até 966 mg por dia (a Anvisa recomenda 225 mg/dia), conforme o padrão DRI (Dietary Reference Intakes). O padrão, desenvolvido pelos EUA e pelo Canadá, é avalizado pela nutricionista Silvia Cozzolino, da USP. Embora feito em dois países, o DRI é uma base confiável por levar em conta pesquisas do mundo inteiro, disse ela.
A Nestlé afirma que não usa uma publicidade que crie "expectativas irreais de popularidade" nem que exiba "cenas de crianças na tentativa de persuadi-las". A empresa produz o Snow Flakes, o Snow Flakes Chocolate, o Nescau, o Estrelitas, o Estrelitas Chocolate, o Crunch e o Moça Flakes.
A Nutrifoods não respondeu à Folha, embora a coordenadora de qualidade, Neusa Guimarães, tenha dito conhecer a pesquisa. A empresa faz o Cornflakes nas versões açúcar, chocolate, mel e leite condensado.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0110200801.htm
Um outro problema apontado é a falta de adequação da tabela nutricional à faixa etária a que o produto se destina
CLÁUDIA COLLUCCI
BRUNA SANIELE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma porção de 30 gramas de sucrilhos de chocolate da Kellogg's (uma tigelinha), por exemplo, tem 205 mg de sódio.
Uma criança de um a três anos deve consumir, por dia, no máximo 225 mg desse mineral -ou seja, uma única porção equivale a 90% das suas necessidades diárias. Para um adulto, essa quantidade de sódio representa 10% das necessidades.
Na avaliação da Pro Teste, todos os cereais matinais também têm açúcar em excesso -de 5,5 a 13 gramas por porção.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o ideal é que uma criança de até três anos consuma, no máximo, 14 gramas por dia de açúcar.
Uma porção do sucrilho sabor banana, por exemplo, tem quase toda a quantidade diária de açúcar recomendada para uma criança nessa faixa etária.
Presente no sal e base para conservantes, o sódio em excesso está ligado à hipertensão arterial e a problemas renais. Já muito açúcar tem relação com obesidade e diabetes tipo 2.
Fibras
Dos cereais analisados, dez marcas apresentaram menos de três gramas de fibras para cada 100 gramas do produto -três gramas é a quantidade mínima para um alimento ser considerado fonte de fibra. Os cereais Corn Flakes (todos os sabores) e Chokos tiveram o pior desempenho no teste: possuem menos de 0,01% de fibra, ou seja, praticamente nada.
Um outro problema apontado pela Pro Teste -que envolve os cereais analisados e a maior parte de alimentos consumidos pelo público infantil- é a falta de adequação da tabela nutricional à faixa etária a que o produto se destina.
A pesquisadora de alimentos da Pro Teste, Fernanda Ribeiro, explica que o percentual diário recomendado de cada nutriente é calculado para uma dieta de 2.000 quilocalorias, que corresponde à necessidade calórica de um adulto, não de uma criança.
A dieta de uma criança de um a três anos, por exemplo, deve ser de 1.050 calorias, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). De quatro a seis anos, esse valor sobe para 1.450 e, de sete a dez anos, para 1.750. "O ideal seria que essas informações fossem apresentadas de acordo com a faixa etária. Seria muito mais útil aos pais", avalia a pesquisadora.
"Isopor food"
O nutrólogo e cardiologista Daniel Magnoni orienta que as pessoas escolham o cereal matinal pelo menor índice de sódio e açúcar e maior presença de fibras solúveis. "O ideal é misturar com um iogurte light, enriquecido com cálcio, e muita fruta", diz ele.
Para Magnoni, os pais não devem se impressionar pelas vitaminas e sais minerais contidos no rótulo dos produtos. "Isso a criança consegue por outras fontes. O que não pode é ficar comendo essa quantidade de sódio e açúcar e quase nenhuma fibra. Isso é o que chamamos de "isopor food", cuja única função é aumentar as taxas de obesidade infantil."
A nutricionista Madalena Vallinoti afirma que muitas vezes os pais utilizam o cereal como alternativa para que a criança consuma leite. "Os pais devem evitar o consumo exagerado desses cereais, mas também não podem proibi-lo caso a criança goste do produto. Deve haver moderação."
De acordo com o pediatra e professor da Faculdade de Medicina da USP, Mário Cícero Falcão, o brasileiro consome muito açúcar e os pais educam a criança a gostar do alimento muito doce. "O cereal que a criança mais gosta é aquele com mais açúcar. É a conjunção do paladar brasileiro com a indústria", afirma Falcão.
Na opinião do pediatra, os brindes distribuídos com os cereais impulsionam o consumo. "Os brindes são uma grande arma antiética. Tem sempre o alimento processado, com valor biológico inferior e pouco nutriente acompanhado do brinde. Por que não vender uma maçã com o personagem da moda?"
Frases
"Os pais devem evitar o consumo exagerado desses cereais [por seus filhos], mas também não podem proibi-lo caso a criança goste do produto"
MADALENA VALLINOTI
nutricionista
MÁRIO CÍCERO FALCÃO
pediatra e professor da USP
Brindes fazem menino pedir cereal para a mãe
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os brindes são o principal motivo para os cereais matinais fazerem parte do dia-a-dia da professora Érica Damasceno Alves, 29, e de seu filho Pedro Henrique, 3.O menino consome os produtos durante a semana na creche e nos finais de semana em casa. "Ele vê [propagandas] na televisão ou [o cereal] no supermercado e sempre tenho que levar para casa", diz Alves.
Durante a entrevista, realizada em um supermercado da zona norte, a reportagem presenciou o menino pedindo o produto do tigre, personagem que estampa as caixas de um dos cereais mais vendidos.
Rosilei de Souza Castro, 30, mãe de Maria Fernanda, 6, utiliza o cereal como incentivo para que a filha consuma leite.
Júlia Aguirre de Souza, 32, mãe de Eduardo, também considera o cereal uma alternativa "saudável", já que o filho gosta de leite e não gosta de verduras.
Segundo a nutricionista Madalena Vallinoti, "o excesso de sódio pode ser minimizado com um grande consumo de líquidos, frutas e verduras".
Segundo ela, os pais também devem optar por cereais sem açúcar e não adoçá-los em excesso. "É necessário restringir o consumo de açúcar e sódio", afirma a nutricionista.
Fabricantes dizem que cereais seguem o que Anvisa estabelece
De acordo com as empresas, todas as informações sobre os nutrientes estão disponíveis nas embalagens dos produtos
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A Kellog's disse que seus cereais "contêm vitaminas e minerais essenciais, são isentos de gordura trans e colesterol, além de alguns ainda possuírem alto teor de fibra alimentar" -a pesquisa apontou teores baixos de fibras em cinco dos seis cereais analisados e "aceitável" em um.
A Kellog's fabrica sete das 18 marcas avaliadas (Sucrilhos, Sucrilhos Chocolate, Sucrilhos Banana, Choco Krispis, Froot Loops, Chokos e Honey Nutos).
A Nestlé diz que cada 30 g de seus cereais têm açúcares que representam, no máximo, 3% da energia necessária para um dia -a OMS recomenda 10%.
Quanto ao sódio, a Nestlé afirma que seus cereais são para crianças de seis a oito anos (consumo diário de até 1.219 mg por dia) e de nove a 13 anos (até 1.495 mg), e não para aquelas entre um e três anos. Os seus pacotes, entretanto, não citam a idade recomendada.
A Nestlé afirma ainda que a quantidade de sódio usada como padrão pela Pro Teste, mesmo para crianças de um a três anos, é desatualizada. A empresa diz que o nível recomendado vai até 966 mg por dia (a Anvisa recomenda 225 mg/dia), conforme o padrão DRI (Dietary Reference Intakes). O padrão, desenvolvido pelos EUA e pelo Canadá, é avalizado pela nutricionista Silvia Cozzolino, da USP. Embora feito em dois países, o DRI é uma base confiável por levar em conta pesquisas do mundo inteiro, disse ela.
A Nestlé afirma que não usa uma publicidade que crie "expectativas irreais de popularidade" nem que exiba "cenas de crianças na tentativa de persuadi-las". A empresa produz o Snow Flakes, o Snow Flakes Chocolate, o Nescau, o Estrelitas, o Estrelitas Chocolate, o Crunch e o Moça Flakes.
A Nutrifoods não respondeu à Folha, embora a coordenadora de qualidade, Neusa Guimarães, tenha dito conhecer a pesquisa. A empresa faz o Cornflakes nas versões açúcar, chocolate, mel e leite condensado.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0110200801.htm
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